O que muita gente já sabia há algum tempo parece que está – tardiamente – preocupando o governo, pelo menos no que diz respeito à publicidade da preocupação: a crise vai ser feia este ano.
Lula reuniu hoje seus Ministros – pela segunda vez – para discutir os efeitos da crise e anunciar o contingenciamento de RS$ 37,2 bilhões no orçamento de 2009. Muitos estados e prefeituras já haviam anunciado medidas deste tipo há um bom tempo. Governos contingenciam recursos quando não têm certeza se haverá arrecadação suficiente para pagar os gastos previstos no orçamento. Certamente, a arrecadação irá cair, como os dados da Secretaria da Receita Federal de dezembro de 2008 já apontavam.
Enquanto isso, as coisas não fazem sentido. Os gastos com o Bolsa Família aumentarão R$ 1,8 bilhão. O PAC tem dinheiro "garantido", segundo a Ministra da Casa-Civil, mas não desempaca. O Tesouro emite dívida pública pra transferir R$ 100 bilhões para o BNDES. Hoje, a Petrobrás, a espera de mais recursos provindos dos cofres públicos, passou a admitir que terá que fazer cortes no seu plano de investimentos.
As medidas anunciadas são esparsas e sem sentido quando agrupadas em uma linha lógica. Simplesmente, não há comunicação clara com o público. Duvido que haja, também, claridade no conjunto de decisões.
No final das contas, parece que, no desespero, Lula está adotando a estratégia do seu primeiro mandato: já que a maioria dos investimentos não vai sair mesmo, vamos colocar mais dinheiro no Bolsa Família que 20% do eleitorado estará feliz.
Semana passada o jornal O Estado de São Paulo divulgou que 62% das obras do PAC estão atrasadas. A Ministra da Casa Civil está fora de casa atrás de votos. O governo está desorganizado e perdido. Sendo pragmático, "é melhor investir no que já deu certo", poderíamos pensar. Porém, a crise é inédita e será profunda. A mesma receita não se aplica neste novo cenário. Não me parece que com este comportamento o governo vai ter a destreza necessária para atravessar nem uma marolinha, pois os ventos do norte estão fortes.
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