Passei duas semanas em Ruanda. Rápidas impressões:
1) A primeira impressão, preconceituosa, foi me assustar de ver um país extremamente limpo, organizado e seguro. A limpeza é um orgulho nacional. Uma vez por mês o comércio é fechado e as pessoas vão às ruas para limpar a cidade. Sacos plásticos foram proibidos. Os ruandeses são organizados, em compação com os países da região. Mas mesmo assim, a noção de tempo é outra. Tudo demora mais do que estou acostumado. Não comumente se vê três pessoas fazendo o trabalho de uma. A mão-de-obra é barata e pouco qualificada. Entretanto, não se vê pessoas nas ruas pedindo dinheiro ou violência com motivação econômica.
2) Parte desta ordem está inserida em um contexto de alto controle social. O governo controla todas as esquinas do país. Guardas com escopetas circulam com naturalidade pelos mais diversos ambientes. Criticar o governo abertamente não é prática comum – talvez, não recomendável. A ordem é garantida e, de certa forma, temida.
3) Após o trauma do genocídio, o país caminha para a integração entre as diferentes etinias. É um país que se matou e, agora, vítimas e algozes têm que trabalhar juntos. O Ministro de Esportes definiu, em um encontro, que a grande diferença entre o genocídio de Ruanda e o holocausto é que, depois de encerrado, os judeus foram deslocados para Israel, enquanto em Ruanda não houve outra alternativa a não ser hutus e tutsis olharem para frente e caminharem juntos. O documentário “As we forgive” relata quatro histórias de esforços reconciliatórios pós-conflito.
4) O governo tem uma estratégica clara: torna-se o centro logístico do leste africano. Como um país sem acesso ao oceano, Ruanda sofre muito pelo alto custos de transportes. A solução é diminuí-lo e criar oportunidades a partir disso. O governo pretende promover a construção de infraestrutura de transportes que integre os paises vizinhos, idéia compartilhada pela Comunidade dos Países do Leste Africano. O problema ainda é saber com que dinheiro.
5) É impressionante o número de reformas que ocorrem no governo ao mesmo tempo. Não há memória do que está sendo feito, de tanto coisa ao mesmo tempo e pela precariedade dos sistemas de informação existentes. Organizações bi e multilaterais são os grande financiadores das reformas, que geralmente ocorrem de maneira relativamente descoordenada. Metade do orçamento do país vem de doações. Tais organizações gostam de Ruanda, pois o governo implementa mudanças. Se serão sustentáveis ou se são as reais prioridades do país, aí já é outra história…
6) A comida deixa a desejar…
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