A cartilha da política ensina: toda informação “quente” vaza. O que varia é como ocorre e até onde chega o derramamento – no caso, de notícias desautorizadas por pelo menos uma das partes comunicantes. O site WikiLeaks mostrou-se o mais ambicioso projeto de vazamento de documentos oficiais e traz consigo a bandeira da transparência e de governo aberto. Em 20 de novembro de 2010 a diplomacia norte-americana ficou praticamente desnuda frente ao mundo. Fofocas, relatos de embaixadores, análises oficiais da Secretaria de Estado foram divididos com os internautas.
As reações foram variadas. Tanto democratas, quanto republicanos pediram ofensiva a Julian Assange, o fundador do WikiLeaks. Alguns analistas disseram que as informações não passam de material de trabalho do governo americano. Por outro lado, criticam – corretamente – a forma como a comunicação interna do governo americano é gerida. Todos dentro do governo tinham acesso a tudo. Governos passaram a pressionar empresas para que cessassem contratos com as organizações que suportam o site. Nos Estados Unidos, Paypal e Amazon. Hoje, em Genebra, por exemplo, o Banco Postal declarou encerrada uma das contas de Assange devido a endereço incorreto.
O ponto é que o poder público está apavorado. Por traz dos fatos, há uma batalha maior – entre sociedade e estado – que a internet propiciou. É uma conquista na relação de poder da sociedade perante o estado. Por mais que a sociedade aqui seja representada por uma comunidade de geeks, o que eles fazem é trazer para a opinião pública o que o estado faz e como ele opera. A conclusão fica, portanto, para ser mastigada pela mídia e digerida pela sociedade. Os oficiais do estado apavoram-se ao sentir a ânsia de vômito da sociedade. O conteúdo do WikiLeaks pode prejudicar votos futuros, carreiras no governo, como também relações comerciais e diplomáticas com outros países.
O WikiLeaks extrapola o conceito da terceira geração de transparência em governo, assim denominado por Fung, em que cidadãos extraem dados publicados pelo governo e os apresentam de maneira inteligível para o público. Na verdade, é um movimento revolucionário ao preparar um terreno seguro para que militantes voluntários ajam e, ao mesmo tempo, tenham seu anonimato assegurado. Tais militantes não têm cara e agem por uma causa – seja ideológica ou pessoal. Provavelmente, são “revolucionários”, ou mesmo oportunistas, dentro da burocracia rígida do serviço público.
Não são as informações que são necessariamente novas, mas o formato, a escala e, sobretudo, a representação explícita de uma mudança simbólica na relação de poder entre sociedade e estado. Não adianta chamar a polícia. Pessoas e/ou organizações não poderão ser identificadas e/ou punidas, tampouco serão passíveis de negociação. Se governos insistirem, a opinião pública certamente reagirá. De qualquer forma, as portas estão sempre abertas para outros “Assanges”.
É melhor pensar que burocratas e políticos vão ficar mais atentos sobre os riscos de não desempenharem bem seu trabalho (público, nota-se). Todos podem assisti-los… a qualquer momento.
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