Silêncio rompido

Obama tomou posse com mais de 80% de aprovação, segundo pesquisa do Gallup. O fato é que se tornou difícil, mesmo para os mais fervorosos republicanos, de criticar o novo presidente. Até mesmo os economistas se calaram durante algum tempo no que diz respeito ao plano econômico de Obama – justamente em um período de gravíssima crise internacional e, também, de falta de detalhamento do programa. 

 

Iniciado com Henry Paulson, ex-Secretário do Tesouro norte-americano, o TARP, sigla para o programa de estímulo fiscal, foi apoiado pela equipe de transição desde o início, inclusive com negociações direta de Obama junto ao Congresso. 

 

 A crise chegou de uma forma tão avassaladora, que o estímulo fiscal passou a ser defendido até mesmo por economistas liberais. Em períodos de desespero, a ordem é “siga o grito de quem grita mais alto”. Ao redor do mundo, essa moda pegou também. No Brasil, por exemplo, a Sra-possível-próxima-candidata-a-Presidente passou a defender políticas anticíclicas para um país que nunca vivenciou isso. O engraçado é que passou a defender tal rótulo no momento de crise-aumento de gasto e não de bonança-poupança, pois, no tempo de vacas gordas, empregaram
todo o partidão e, ainda, aumentaram seus salários. Como não é raro, mal executaram todos os investimentos que gargarejaram sob o rótulo de PAC. Agora, o BNDES tornou-se uma espécie de órgão que pode-tudo, inclusive com dinheiro transferido pelo Tesouro. A Petrobrás, beneficiadora desta lógica e sede de palanque eleitoral, passou a ser uma empresa de capital aberto que desconhece, aparentemente, o conceito de retorno sobre investimento ou transparência em relação a tais investimentos. 

 

Explosion

 

Na academia americana, parece que a poeira erguida em Washington abaixou e os economistas iniciaram a exercitar uma habilidade pela qual são famosos, a da crítica. E ela vem de todos os lados: dos ortodoxos e dos heterodoxos. 

 

 Semana passada, Roberto Barro, da Universidade de Harvard, alertou para o fato de que se a equipe de Obama tem a intenção de usar o modelo keynesiano puro e simples, significa que nada caminhamos em termos de teoria econômica e evidência empírica desde os anos 40. John Cochrane, da Universidade de Chicago, seguindo
seu colega Fama, publicou um artigo chamando atenção para algumas falácias do aparente modelo de estímulo fiscal, a partir de uma identidade que iguala gastos do governo financiado por meio de dívida pública e investimento privado.

 

Paul Krugman, ontem, alegou que a economia vive uma “era negra”, em crítica aos economistas de Chicago por desconsiderarem o que há além da clássica identidade S=I (poupança = investimento). Porém, demonstra-se preocupado com os possíveis atrasos na implementação do pacote de estímulo, o que pode ser contra-produtivo. Jeffrey Sachs, notoriamente heterodoxo, criticou hoje no Financial Times a falta de previsão orçamentária de médio prazo em se implementando o TARP. Dado que o déficit americano passará de US$ 1 bi, Prof. Sachs preocupa-se
com que os malefícios no médio prazo não compensem o possível benefício no curto-prazo.  

 

As críticas diferem-se em grau e forma, mas o debate rompeu o relativo silêncio, ou melhor, os gritos da campanha e da vitória. Agora, é hora de trabalho nos EUA. No Brasil, é época de campanha. Os riscos são maiores para nós. Não há outra solução que não ficar atento. 

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2 respostas para “Silêncio rompido”.

  1. Avatar de Henrique Araujo
    Henrique Araujo

    Fião,

    em primeiro lugar, parabéns pelo blog, sucesso! Excelente textos, keep up the good work!

    Muita expectativa em cima de um simples mortal! A decepção será inevitável! Mas não deixo de compartilhar o sentimento de esperança! Let the healing begin!

    abraços,
    Henrique

  2. Valeu fiote!
    Esperança sempre tenho! Otimismo e ceticismo também! Hehehe
    Grande abraço,
    H.


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