1. Em época de crises, pensamos logo na América Latina. Porém, desta vez, estamos melhor preparados do que nas outras crises. No passado, criávamos a crise por não fazer a tarefa de casa – manter políticas macroeconômicas sustentáveis. Após muitos erros, aprendemos algumas coisas: diminuímos e reestruturamos as dívidas públicas, aumentamos o resultado primário, nossas moedas estão mais robustas, aumentamos as reservas internacionais como forma de auto-seguro, os sistemas financeiros estão mais fortalecidos.
Esse diagnóstico parece que está consolidado. Porém, todos admitem que os impactos negativos da crise serão inevitavelmente sentidos. De “morolinha”, nada veremos – é mar de ressaca. O Banco Mundial e Banco Inter-Americano de Desenvolvimento canalizaram 90 bilhões de dólares para o combate da crise. Há os que acham que esse recurso ainda não será suficiente.
Até agora, não há dinheiro que chegue para reanimar o mercado… sobretudo o norte-americano…
2. Ricardo Hausmann, sexta-feira passada, alertou que é preciso separar a América Latina em duas para analisar o impacto da crise e a capacidade de recuperação dela:
a. Um grupo mais responsável e que provavelmente se sairá melhor da crise: Chile, Brasil, Colômbia, Peru e México.
b. Outro, seguidor de políticas populistas, que dificilmente enfrentará a crise bem: Argentina, Venezuela, Equador, Bolívia e Nicarágua.
3. Cesar Calderon, economista do Banco Mundial, fazendo coro ao FMI, defendeu hoje que os estímulos fiscais na América Latina não podem prejudicar a sustentabilidade fiscal e macroeconômica. Ele também destacou que as políticas fiscais na América Latina são predominantemente pró-cíclicas – gastam em tempos de bonança e poupam em tempos de escassez.
O único país contra-cíclico – que poupa em tempos de bonança e gasta em tempos de crise – é o Chile.
Em um índex recém criado pelo Banco Mundial – paper deverá sair nas próximas semanas -, é possível visualizar os possíveis restrições para implementar uma política contra-cíclica:
Fonte: Calderon, Banco Mundial
Dani Rodrik parabenizou o trabalho realizado no Chile que seu amigo e Ministro da Fazenda Andres Velascos está liderando. Intitulou o artigo de: “quando os livros-textos dão retorno”.
O Brasil, que não conduz uma política originalmente contra-cíclica nos últimos anos, elevando sobremaneira os gastos correntes (como salários de servidores), prefere agora – na hora de gastar – dizer que está. A meta de superávit primário já foi diminuída de 3.8% para 2,5% do PIB em 2009. Afinal, 2010 é ano eleitoral. Precisamos ficar atento à dívida pública.
Um bom presente para o Ministro Mantega é um livro-texto de Macroeconomia ou uma viagem ao Chile. Malan e Palocci fizeram a lição de casa. Mas o atual Ministro, que parece não ter aprendido muito com os antecessores, precisa respirar outros ares.
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