Fernando de Noronha: o que esperar a mais?

Paraíso pode ter diferentes endereços e julgados de formas distintas. Mas não há como duvidar que Fernando de Noronha se encaixa em tal rótulo.

Em uma passagem turística pela ilha pernambucana a pergunta que ficou foi: como fazer de Fernando de Noronha (FN) um lugar de turismo de alto padrão internacional? Algumas observações:

1) FN possui as condições idéias para se promover uma política de turismo sistêmica e controlada. É pequena; possui uma população de aproximadamente 2 mil pessoas; há controle total sobre entrada e saída de pessoas; esbanja potencial turístico; é relativamente famosa internacionalmente; atrai somente  turistas de alto poder aquisitivo; e possui um potencial imenso de arrecadar recursos para promover melhorias no seu desenvolvimento sustentável e tornar-se referência mundial.

2) Diversas iniciativas já foram desenvolvidas na ilha. Do lado público o governo federal investiu recursos com estrada, aeroporto, sinalização e, sobretudo, na política de controle e educação ambiental. O IBAMA faz um trabalho bastante interessante na ilha. Do lado privado, há pousadas, empresas de turismo que realmente prezam a natureza e pretendem manter FN conservada. Falta um plano mais abrangente e estratégico.

3) A ocupação da terra é controlada. O turista paga uma tarifa de permanência na ilha que aumenta exponencialmente. Duvida-se que todo recurso arrecado pelo Governo de Pernambuco seja revertido para a ilha. Todo imóvel é um concessão que pode ser confiscada em caso de guerra (creio que o risco é bem pequeno). Os imóveis não pagam impostos praticamente. Uma pousada de luxo, por exemplo, paga ao redor de R$240 reais por ano! Entretanto, não é claro como se consegue uma concessão, dado que não há um mercado claramente estabelecido. Há fartas oportunidades para favoritismos.

Por outro lado, construções abandonadas em pontos paradisíacos representam um alto custo de oportunidade para o turista – que poderia usufruir mais e, talvez, melhores serviços – quanto para o governo – que poderia arrecadar mais impostos. Além disso, lugares abandonados dão a impressão de depreciação do lugar, o que não combina para um destino de turismo de alto nível.

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Foto: HL.

4) FN já atrai turistas com alto padrão de consumo. Desenvolver este mercado ainda mais – mantendo um limite de pessoas na ilha e exigindo melhores práticas de manutenção e controle do meio ambiente – é possível. Porém, não poderia ser feito se o atual sistema de concessão de ocupação e uso da terra seja gerido de maneira discricionária e sem favorecer a competição entre potenciais investidores. Uma alternativa seria a realização de leilões.

5) Uma possível estratégia para FN seria tornar-se uma “ilha de lua-de-mel”, como Bora-Bora e Maldivas. A propensão de gasto do casal em lua-de-mel é altíssima. Mesmo hoje, sem uma estratégica clara por parte do governo, parece que é um local bastante escolhido por casais.

6) Claro que isso não seria suficiente sem investimentos em água (é um dos maiores problemas da ilha), saneamento, energia e transportes. FN é movida a óleo diesel. Há um gerador de energia eólica que está estragado há seis meses devido a um raio. Mesmo assim, este gerador era responsável por 7% da energia da ilha. Há possibilidade plena de expandir a geração de energia eólica. Esta é, na verdade, uma fonte energética que tem um grande potencial em todo litoral nordeste devido à abundância de vento, ou “brisa” como os baianos preferem.

O aeroporto necessita de melhor a instalações. A conservação das estradas de terra na ilha é necessária. O transporte à bug não é nada engraçado, além de ser perigoso. Há apenas um posto na ilha. O litro da gasolina custa R$3,60. As instalações do posto são lamentáveis.

7) Há a necessidade de se treinar a população local para lidar com o turismo de maneira profissionalizada. Estudo de idiomas estrangeiros e treinamento técnico (hotelaria, culinária, etc.) são demandas presentes. Não raro, é necessário trazer funcionários do Sudeste do país para cumprir tais lacunas.

8 ) Geralmente, governos no Brasil tentam resolver políticas de turismo colocando placas por todo o lugar e produzindo material de divulgação. FN está relativamente bem-servida nesses termos. Para que FN, ou qualquer outro lugar, torne-se uma referência internacional em turismo de alto nível, a estratégica da política pública importa. Seu debate também.

No Brasil, estamos acostumados a ver a riqueza e a pobreza andarem de mãos dadas. Absurdamente, acostumados a viver em nossa contradição. FN poderia ser um modelo de criar um centro turístico internacional sem tais problemas. Quem sabe, caso desse certo, essa moda não espalharia para o continente. Mas ai, a complexidade é de outra dimensão…

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