Ontem tivemos um sopro de esperança para a democracia brasileira. Pessoalmente, fui recompensado de ter me deslocado da Suíça para sentir o calor das urnas e votar.
Brasil | Os candidatos à Presidência da República fizeram campanha como se estivessem procurando namorada(o). Descreveram suas vidas, suas intenções e como se alinham ou não ao Presidente Lula. No final das contas, passaram para o eleitor mais a visão de mundo que têm – moldadas por pesquisas qualitativas – do que um projeto de governo. Os candidatos falaram o que gostariam de fazer, mas não esclareceram como, a que preço, quais seriam os benefícios ou riscos. Ou sejam, não fizeram nem o contrafactual elementar do que fariam como Presidente da República: administrar um país complexo e promissor que é o Brasil.
Paciência. Estamos no segundo turno! Os gritos de ordem do presidente-cabo-eleitoral não foram suficientes para fazer Dilma levar no primeiro turno. Agora é a hora. Serra e Dilma precisam passar a discutir com mais detalhes os respectivos projetos para o país. Não adianta um candidato falar que um tem mais experiência do que outro, tampouco outro achar que ganha-se uma eleição pelo grito de terceiros. A democracia brasileira merece mais crédito e respeito. Já as pesquisas de intenção de voto, menos.
Serra | Serra fez um discurso empolgado rumo ao segundo turno por volta das 12:30 da manhã na Barra Funda, São Paulo. E agora, José?
Primeiro, Marina, Marina, Marina, quem bateu quase 20% dos votos. A aliança com Marina é crucial. Creio que não haverá empecilhos. Acredito também que a força de Marina pode ser renovadora para a própria campanha de Serra. Segundo, Serra precisa diminuir o discurso 100% personalista, pois há um partido e aliados por trás de sua candidatura. Há uma história que não pode ser apagada ou esquecida. Soa mal. Terceiro, os governadores eleitos pelo PSDB (SP,MG, PR e TO) precisam virar cabo eleitorais efetivos – coisa que fizeram com timidez ao longo da eleição, com exceção de Geraldo Alckmin. Em Minas Gerais – segundo maior colégio eleitoral do Brasil -, o senador eleito Aécio Neves tem que ir às ruas e fazer Serra virar esse jogo. Anastasia foi eleito. Agora, vamos prezar para que nossos valores de liberdade façam-se válidos para todo o Brasil fazendo Serra presidente.
Minas Gerais | Aécio sai fortalecido nacionalmente ao eleger Anastasia, Itamar e ele mesmo. O governo mineiro estará nas mãos de um grande administrador público, Anastasia, quem contará com maioria na assembléia legislativa. Dever cumprido, Aécio. Agora, é hora de trabalhar para o Brasil e para Serra.
São Paulo | Geraldo Alckmin ganhou, como esperado. Merecido. É um homem dedicado ao Estado e ao seu povo. Mercadante (PT) nunca teve certeza porque estava disputando o governo paulista. O PSDB tem um desafio interessante em São Paulo: auto-reformar-se após 20 anos no poder. O PSDB faz um governo bom no estado, mas não é possível ser míope perante ao que não funciona tão bem. Cito três áreas que merecem prioridade: educação, reforma administrativa e gerencial e inovação tecnológica.
Aloysio Nunes foi a grande surpresa dessas eleições. Ninguém esperava que seria o Senador paulista mais bem votado. Colocou o Netinho (de Paula) para dormir.
Nordeste | O Nordeste é vermelho. E não sem razão. Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Marco Marciel (DEM-E) estão fora do Senado. Reverter este quadro requer um projeto de longo prazo da oposição.
Futuro | O PT sai desta eleição bastante fortalecido, sobretudo porque sua coligação tem maioria no Congresso e no Senado. Caso Serra eleito, será dureza negociar com o Legislativo.
Em relação ao PSDB, ainda creio que sua lideranças precisam olhar para o futuro e agir estrategicamente. É uma questão de competitividade e sobrevivência. Queremos ver quem será o líder deste processo…
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