IPOD, YouPOD, NósPODemos

Ando meio sumido. Ontem, escutei uma história que preciso dividir.

Carolina (nome fictício) é uma amiga armena que fala português praticamente sem sotaque. Namorou vários anos um brasileiro. Recém-solteira, está louca para passar o carnaval em Salvador. Trará sua amiga russa à tira-colo.

Ao me consultar sobre seus planos, dei a maior força. Diversão garantida. Além disso, é ótimo para o turismo nacional e para a economia soteropolitana.

Desde esta primeira conversa há umas 3 semanas, Carolina tem tentado comprar abadás – aquela camiseta brega e cara que é requerida para entrar e permanecer nos blocos carnavalescos de Salvador. Sempre me pergunta dúvidas; e eu, nunca tenho muitas informações para ajudá-la.

Primeiro, não sabia o site em que se comprar. Nisso ajudei; foi fácil. Mas, aparentemente, o problema só começou. Carolina não conseguia fazer a compra on-line. Quando descobriu como comprar, precisava de CPF para efetuar a aquisição. Intrigada, ligou-me perguntado se “gringos” não iam ao Carnaval de Salvador.

Finalmente, Carolina ligou para o site de vendas. Como fala português muito bem, conseguiu negociar como o vendedor, quem já adiantou: “não precisa se preocupar em pagar agora não”. Sem entender, Carolina perguntou como iria fazer para pagar. “Bem, você mora nos Estados Unidos, não? Então, traga este valor para mim em IPODs que está tudo bem!”. Estarrecida, minha amiga ingagou como isso seria possível. Tranquilo, o vendedor baiano pediu para que se acalmasse, pois a abadá estava garantida já. Bem, agora se falam pelo gchat sobre a abadá.

A falta de profissionalismo de um evento grande e significativo como o Carnaval de Salvador não é tão engraçado assim. Turistas são inibidos de virem ao Brasil por conta de ineficiência, burocracia (exigência de CPF) e falta de acesso a informação e aos produtos oferecidos pelo carnaval (a abadá). Como sempre, o solução são “jeitinhos” esdrúxulos que estão bem aquém deste “brasil-do-futuro”estampados em revistas internacionais.

Enfim, Carolina está feliz para dançar com Timbalada, Ivete, e companhia.

Agora, estou esperando para ver sua impressão geral do evento. Arrisco a dizer que notará que a cidade é interditada durante alguns dias para que os detentores de abadás circulem por importantes avenidas da cidade atrás dos trio elétricos. Esses blocos-brancos-ricos são rodeados por uma massa-negra-pobre com olhares atentos e reprimidos. A linha divisória é formada por “cordeiros”e pela polícia estadual. O carnaval baiano é um retrato de nossa sociedade segregada e em com uma grande dívida social.  Mesmo assim, o jeito é se divertir….

Alguma coisa continua estranha. De qualquer forma, há sempre os que preferem acreditar que IPOD, YouPOD, NosPODemos…

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8 respostas para “IPOD, YouPOD, NósPODemos”.

  1. […] Humberto Laudares põe o dedo na ferida: o carnaval baiano é um retrato 3×4 de nossas desigual… […]

  2. Nao curto mais tanto o cara que escreveu e cantou a musica HAITI. Mas, em se tratando de Bahia, acho que ele conhece melhor que eu…

    Haiti
    Caetano Veloso
    Composição: Caetano Veloso e Gilberto Gil
    Quando você for convidado pra subir no adro
    Da fundação casa de Jorge Amado
    Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
    Dando porrada na nuca de malandros pretos
    De ladrões mulatos e outros quase brancos
    Tratados como pretos
    Só pra mostrar aos outros quase pretos
    (E são quase todos pretos)
    E aos quase brancos pobres como pretos
    Como é que pretos, pobres e mulatos
    E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
    E não importa se os olhos do mundo inteiro
    Possam estar por um momento voltados para o largo
    Onde os escravos eram castigados
    E hoje um batuque um batuque
    Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
    Em dia de parada
    E a grandeza épica de um povo em formação
    Nos atrai, nos deslumbra e estimula
    Não importa nada:
    Nem o traço do sobrado
    Nem a lente do fantástico,
    Nem o disco de Paul Simon
    Ninguém, ninguém é cidadão
    Se você for a festa do pelô, e se você não for
    Pense no Haiti, reze pelo Haiti
    O Haiti é aqui
    O Haiti não é aqui
    E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
    Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
    Plano de educação que pareça fácil
    Que pareça fácil e rápido
    E vá representar uma ameaça de democratização
    Do ensino do primeiro grau
    E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
    E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
    E nenhum no marginal
    E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
    Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
    Brilhante de lixo do Leblon
    E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
    Diante da chacina
    111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
    Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
    E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
    E quando você for dar uma volta no Caribe
    E quando for trepar sem camisinha
    E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
    Pense no Haiti, reze pelo Haiti
    O Haiti é aqui
    O Haiti não é aqui

  3. Surpresa feliz em descobrir seu Blog! Adorei os textos. Será muito bom saber de vc mais amiúde… Beijo carinhoso e sucesso!!!!! RIT@ MARQUES

  4. Yes we can, my friend!

  5. Avatar de Quintino Bocaiuva
    Quintino Bocaiuva

    Choveu no molhado….que a desigualdade é algo ruim, abmonivel e etc todo mundo sabe….

    Questionar isso é o mesmo que querer entender a existencia humana.

    Na moral e ética, a segregaçao é um absurdo…porém no instinto, no core, na emoçao do ser humano saber que vc pode ser melhor que o outro por muitos é encarado com prazer…

    Para as coisas se acertarem o mundo precisa acabar e começar de novo….Eva não pode morder a maça…..E ninguem deve se sentir mais importante por rotulo que ostenta…

    Um grande abraço de um amigo admirador de sua inteligencia !!

    1. Caro Quintino, obrigado pelo comentário. E realmente um tema delicado. Caso nao tenha lido, há um livro chamado Justiça (Michael Sandel) que menciona a questao da desigualdade sob a perspectiva da justiça. Como é um debate mais teórico prefiro não comentar no blog. Sob a perspectiva econômica, há bons papers também. Se tiver interesse, sugeriria ver Ricardo Peas de Barros (IPEA) e Dany Rodrik, por exemplo. Ab, H.

  6. Very often, people create the thesis topic by their own. But some students prefer to purchase the interesting data about this good topic at the dissertation writing service, just because that seems to be easier.

  7. Nao curto mais tanto o cara que escreveu e cantou a musica HAITI. Mas, em se tratando de Bahia, acho que ele conhece melhor que eu…

    Haiti
    Caetano Veloso
    Composição: Caetano Veloso e Gilberto Gil
    Quando você for convidado pra subir no adro
    Da fundação casa de Jorge Amado
    Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
    Dando porrada na nuca de malandros pretos
    De ladrões mulatos e outros quase brancos
    Tratados como pretos
    Só pra mostrar aos outros quase pretos
    (E são quase todos pretos)
    E aos quase brancos pobres como pretos
    Como é que pretos, pobres e mulatos
    E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
    E não importa se os olhos do mundo inteiro
    Possam estar por um momento voltados para o largo
    Onde os escravos eram castigados
    E hoje um batuque um batuque
    Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
    Em dia de parada
    E a grandeza épica de um povo em formação
    Nos atrai, nos deslumbra e estimula
    Não importa nada:
    Nem o traço do sobrado
    Nem a lente do fantástico,
    Nem o disco de Paul Simon
    Ninguém, ninguém é cidadão
    Se você for a festa do pelô, e se você não for
    Pense no Haiti, reze pelo Haiti
    O Haiti é aqui
    O Haiti não é aqui
    E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
    Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
    Plano de educação que pareça fácil
    Que pareça fácil e rápido
    E vá representar uma ameaça de democratização
    Do ensino do primeiro grau
    E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
    E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
    E nenhum no marginal
    E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
    Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
    Brilhante de lixo do Leblon
    E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
    Diante da chacina
    111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
    Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
    E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
    E quando você for dar uma volta no Caribe
    E quando for trepar sem camisinha
    E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
    Pense no Haiti, reze pelo Haiti
    O Haiti é aqui
    O Haiti não é aqui


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