Um país bonito. Gente boa e natureza aprazível. Um presidente bem quisto por essa gente boa. Quase todo mundo, por volta de 80%, gosta dele. Tem cara de gente boa também. Com um país e uma gente desse jeito, quem não gostaria de ficar no poder por muito tempo? Quando findo os tempos-dos-dois-reis, houve sucessivas trocas entre regimes democráticos e autoritários. Às vezes, a gente que é boa deixa outra gente, considerada naquele momento boa, falar mais alto e ríspido, pois acreditam que tudo ficará bem. Afinal, todo mundo é gente boa. Um dia, os papéis mudam.
Aos poucos, o poder dessas pessoas-boas cria forma e dão sentido a projetos e ambições. Antes, os candidatos gostariam de ser somente presidente. Depois, foi aprovado que eles podem ser eleitos duas vezes. Num país de natureza exuberante, o céu azul anil é o limite – quando o mau desempenho da economia não atrapalha a visibilidade colocando no horizonte nuvens cinzas. Por isso, tem-se a sensação que é preciso aproveitar ao máximo para não se perder a oportunidade. Mesmo que a oportunidade seja aproveitada às custas dos valores democráticos e da lei. Às custas da própria gente boa. Alguns aceitam, pois são tudo gente boa. A maioria cala-se. Alguns poucos que gritam, só o fazem porque são os outros 20% que não gostam do presidente-gente-boa. Gritos, não raro oportunistas e atrasados, não geram necessariamente resultados momentâneos. São desqualificados pelos gente boa, são chamados de maus e feios. Fala-se até e extingui-los. Quem sabe, querem voltar aos tempos-de-rei.
Foi assim com Vargas, com a Ditadura. O que será que será?
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