Em busca do programa de governo perfeito?

É chocante, mas ambos Serra e Dilma não apresentaram seu programa de governo duas semanas antes das eleições. Até agora, vão para as urnas com um cheque em branco. Além disso, os projetos, que a princípio defendem, bebem na mesma fonte – basicamente, o que já existe na praça. Isso não significa necessariamente que os candidatos têm um alto nível de concordância, mas sim que há uma significativa carência de capacidade técnica nos partidos para formular políticas públicas.

Há duas semanas fui fazer uma apresentação na FGV-EAESP e um aluno me perguntou ao final se defendia ou apoiava o ajuste fiscal. Ironicamente, perguntei-lhe que ajuste fiscal estava falando. Não se sabe detalhe algum de possíveis políticas econômicas de ambos candidatos. A única coisa sabida é que Serra é mais previsível e preparado.

Em janeiro de 2009, fiz um comentário sobre esta questão. Acho que continua atual, dado o que estamos vendo:

“Não precisa ser bem informado para saber que qualquer governante no Brasil assume um mandato sem saber o que fará. Pode ser que o candidato tenha uma estratégia, mas dificilmente ela será conectada com políticas públicas específicas. Os planos de governo são formados como uma colcha-de-retalhos a partir da opinião de diversos especialistas ligados ao partido ou ao candidato. Durante a transição, inicia-se a varredura da casa, sendo que se
gasta quase 6 meses de governo (1/8 do tempo de mandato), no mínimo, para se saber o que fará.

É justamente aí que os think-tanks exercem um papel importante: pensar e elaborar políticas públicas com certa periodicidade para grupos políticos ou/e econômicos. Tais instituições não têm foco acadêmico, têm foco prático e executivo. Geralmente tais organizações são compostas por acadêmicos e pessoas com experiência em política pública, e são financiadas por organizações ou indivíduos interessados em seu produto final”.

Nesta eleição, houve a tentativa de construir plataformas na internet em que os cidadãos contribuíssem com propostas. A idéia pode ser boa, mas o resultado é só para inglês ver. Parece que o jeito é aguardar o resultado das urnas, a varredura da casa e, depois, o tão esperado programa de governo, que, se levado a sério, será expresso no Plano Plurianual.

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2 respostas para “Em busca do programa de governo perfeito?”.

  1. Excelente ponto! Infelizmente, nossos administradores (atuais e potenciais) nao tem ideia do que irao fazer…estou ha dois meses checando os sites oficias das campanhas (Serra e Dilma) atras de um programa de governo, e nada! They’ll just wing it!

    1. Fato, Helen… O pior é que o estilo de administração predominante no Brasil – sobretudo prefeituras e estados – é tudo no “última-hora”. Temos uma cultura de administração pública muito oportunista e focada no curto-prazo. Não por acaso, fazemos políticas cíclicas, nosso nível de poupança é baixo, e todo plano que apresentado é peça de ficção e de estante. Assim vamos longe!
      É possivel fazer discurso eleitoreiro e trabalhar com seriedade em paralelo. Não faltam recursos, mas não existe institucionalidade partidária. Por sua vez, falta liderança para fazê-lo também. Ainda tenho esperanças…
      Bjo, H.


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